Diário de bordo.


Eu continuo andando pelo mundo. Depois de quase um ano sem escrever, eu releio a mim mesma. O quanto eu mudei. O quanto eu continuo a mesma pessoa.
Profunda, pesada e angustiada. Densa, indiferente, alternativa.
Eu continuo andando pelo mundo, meio sem saber o que fazer. Eu queria fechar os olhos e sonhar. Queria menos barulho na minha cabeça, menos vazio no coração. Continuo cansada. Acho que sempre estarei.
Continuam perguntando como eu me sinto. Como eu me sinto?
Eu estou cansada da vida e do mundo. Estou cada dia menos deslumbrada com as ruas cinzentas, as noites aluadas e o cheiro de sol das tardes de verão. Eu estou completamente sóbria.
Não há ópio, cigarro ou bebida que adormeça o sentimento de que o mundo é cada vez mais escuro, sombrio e que as pessoas são cada vez mais terríveis; E enquanto eu poluo minha alma e meus pulmões tragando a fumaça e engolindo as palavras sem sentido, meu idealismo e meu brilho vão se transformando.
Sou uma má pessoa? Sou só mais uma daquelas pessoas conformadas com a realidade?
Não digo que o mundo não é belo. Não digo que a vida não é sublime. Mas é tudo cruel demais. É tudo selvagem, e a competição que estou vivendo hoje é brutal -- Estou competindo contra mim mesma. Contra o tédio dos meus próprios valores e a devassidão dos meus próprios desejos.
Se exijo demais do universo, talvez a recíproca seja verdadeira. O que eu queria, na verdade, era a paz de um dia com cheiro de roupa limpa e brisa fresca. A paz de se sentir livre, sem obrigações, e o desespero de não ter que se adequar a nenhum ambiente - o desespero intenso de ter total e completa liberdade. Queria ouvir o sussurro dos livros pra mim, de suas capas duras e coloridas. Queria me sentir a mesma aberração, a mesma esquisitona que me sinto agora: E ser feliz assim!
Queria ouvir os blues e o rock e gritar junto com as cordas da guitarra. Queria um pouco de Pink Floyd, AC/DC, Buarque e outros dinossauros da boa música. Queria ouvir minha própria voz acima do burburinho nervoso da consciência, e talvez acordar com um beijo tranquilo de alguém querido, depois de passar uma noite inteira em braços candentes.
Mas, por enquanto, a rotina continua. Eu continuo. Permitindo momentos egocêntricos como esse. Andando, andando, meu allstar surrado e meus fones de ouvido já não me suportam mais. Andando pelo mundo, sendo enganada por ele, falando sobre como me sinto, e sorrindo de deboche pra vida e pro verbo, que eu nunca conseguirei domar.

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