Faminto.


Aos amargos, a doçura - Para que zombem e tripudiem do que lhes é necessário, e lhes falta por simples recusa.
Aos ternos e doces, um pouco de azedume - Para que passem noites amargas e melancólicas, e possam assim conhecer a poesia profunda e aborrecida.
Aos belos, um novo ponto de vista - Para que sintam-se rejeitados e marginais diante de tão ordinária beleza.
Aos feios de coração ou de face, um elogio - Para que saibam amar-se ainda que ninguém mais os aprecie.
Aos porcos, as pérolas. Aos tontos, o conhecimento. Aos sábios, a ignorância (a consciência de que sempre seremos aprendizes). Aos conformados, a persistência. Aos teimosos, a chance de desistir. Aos arrogantes, a humilhação. Aos humildes, a tentação do poder. E por fim, ao poeta (ou poetisa, intrometida que sou), a realidade. Para que não se solte dos grilhões da vida através da arte, para que não se torne incorpóreo e insensível (ou indolor, por que não?), para que não seja inatingível, a cruel realidade. Trazendo-lhe de volta ao chão sem impedi-lo de voar. 
À você e à mim, a contrariedade. A negação do querer. A insatisfação.
Para que busques sempre, para que sejas sempre mais, ofereço-lhe (ainda que não possa dar nada a ninguém) o grande dom de ser insaciável.

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