Erotismo e crueldade

Eu nunca me privei do meu erotismo.
Desde muito pequena, quis descobrir meu corpo.
Depois, ainda acreditando que era pecado, tirava minha roupa, porque o crime valia a punição.
Eu gostava de me redimir nos braços de alguém.
Eu lembro de um ou dois rapazes,
Ou talvez oito ou dez.
Eu lembro do jeito que eles me beijavam, suavemente
Ou do jeito que eles me batiam com firmeza
Eu lembro dos nomes e dos meus cabelos uma vez longos caindo sobre seus peitos
Eu lembro da minha própria selvageria enquanto eu dominava,
Subjugava e seduzia cada um deles,
Até quando a submissa era eu.
Até quando era eu que implorava,
Eu os controlava.
Eu era a rainha do gozo deles, e a cúmplice do meu próprio.
Eu observava meus olhos em espelhos ou em reflexos enquanto meu próprio corpo dançava diante de um holofote imaginário, diante de uma plateia limitada a uma única pessoa (ou vez ou outra duas) que se contorciam em profundo desespero, tremor e suor, e acompanhavam meu ritmo frenético e trêmulo entre idas e vindas (na vida e na cama).
Eu lembro do rapaz que tinha boas mãos,
E do outro que tinha bons lábios.
Eu lembro de A., que gostava de me machucar tanto quanto gostava de me dar prazer.
Lembro de G., que tinha as mãos mais maravilhosas para massagens.
Lembro de P., que dizia que fazia amor comigo, mas não passava de um homem sujo.
Lembro de R., M., e de muitas outras letras do alfabeto que quiseram me fazer especial ou não, é me encaravam com olhos verdes, castanhos ou pretos, muito esperançosos a respeito da manhã seguinte (ou não).
Lembro de cada um deles. Lembro da maneira que eles gostavam de me abraçar quando eu dormia, e
como suas mãos de vez em quando repousavam em meus quadris, ou seus rostos se abrigavam no meu cabelos, ou seus lábios tocavam meus ombros e sussurravam meu nome.

Mas nada disso jamais me foi amor.
Toda a devoção e toda a fúria declarada no meu sexo jamais foi amor.
E todos os homens que amei, amei fora da cama. Meu leito é um campo de batalha.
Minha forma exposta é minha armadura.
Meu figurino é meu corpo nu.
Fiz do prazer meu estandarte de guerra pra sobreviver em um mundo onde amar se tornou impossível.
Entrego meu corpo no lugar do coração.
Entrego letras no lugar da minha saudade.
Na cabeceira, pela manhã, o copo d'Água que qualquer um deles deixou,
Meu cigarro morto, meu cheiro levando até a porta,
E a porta dizendo nunca mais.

Obrigada pela aventura.

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