as entranhas ingênuas e o dia que me conheci suicida

É uma única cena fantástica que domina meus pensamentos
Enquanto tomo banho e me questiono
A respeito da vida e do amor e do conhecimento humano
Enquanto me embrulho pra dormir
sem conseguir ficar aquecida o suficiente
Enquanto não danço mais e sinto meu corpo
Engordando, murchando, se tornar algo odioso
Enquanto todos esses pensamentos formam uma espiral
Dentro da minha cabeça perturbada
Eu encaro a faca de pão, os comprimidos e o carros
E eu penso em como seria bonito ver o sangue escorrendo
Num corte limpo
Ou meus cílios batendo sonolentos,
Como as cortinas do teatro se fechando
Ou as entranhas coloridas escapando meu corpo
Ingênuas e desejosas de um mundo que elas nem imaginam ser tão cruel
Eu me imagino num ato supremo de destruição
Colorindo o asfalto, a parede e o tecido
Com minha morte-arte
Oferecendo ao público a catástrofe, a calamidade, que é o que move o mundo
As lágrimas, o horror, o peso que se levanta da existência
Pobrezinha, pobrezinha
E eu morta sorrindo, embrulhada em um edredom negro,
Emoldurada de giz,
Devidamente identificada e examinada
Finalmente aquecida pelo fogo crematório, ignorando as questões da vida,
Acolhida pelo que (não) está além
Dançando com as raízes e o cheiro da terra

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