Temporal.

Descemos a escada debaixo de gotas grossas de chuva, você agarrado na minha mão, eu agarrada no guarda-chuva porque estava usando vestido branco e não queria ficar pelada.
Queria que você pegasse um táxi pra escapar do temporal, ou dormisse na minha casa, assim eu poderia fantasiar você a menos de dez metros de mim, mas você, teimoso como uma mula, não quis nem um, nem outro, e eu tive que me contentar com o simples ato de você levar meu guarda-chuva cor-de-rosa pra casa.
- Fica.
- Não, Dani, eu tenho curso amanhã.
E eu amaldiçôo seu curso, e suas coisas, e sua vida longe de mim, porque ser eu longe de você não tem a menor graça. Eu faço minha cara de criança mimada que levou um não no meio da testa, e você dá aquele sorrisinho que eu adoro com seus lábios cheios como o de um anjo.
- É só uma chuvinha de nada.
- Claro, os relâmpagos são por causa de Deus, que tá curtindo uma boate. - respondo pirracenta e você cai na gargalhada, agarrando meu cabelo meio ensopado e beijando minha testa. E depois minha boca, com sua língua doce traçando os trajetos malucos dos meus lábios, com uma doçura que nem eu entendo. E aí eu relembro nossa tarde cheia de suspiros, strogonoff, sorvete, mãos dadas, beijos e sobre como nós rimos e fizemos juras de amor. E aí eu lembro que vou ser sua mulher e sua companheira pra sempre, mas que não sou mulher e não sou nem responsável pelo meu nariz, e fica tudo nessa confusão até você soltar minha mão e acenar da janela do ônibus, me deixando na minha vida desinteressante mais uma vez.
E eu, que te conheço minha vida inteira, mas há só quatro meses, fico pensando sobre o quanto é bom ter você, no lugar da minha cabeça onde não existe nada mais, apenas eu e você.

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