Noites de insônia e as ondas violentas

Eram dez da noite e eu já tinha ultrapassado a dose dos remédios que nem tinham sido prescritos
Fumei todos os cigarros que tinham e rolei na cama
Pensando em como as coisas vão embora rápido, em dias, horas, minutos, segundos
Liguei para minha mãe e ela não atendia enquanto eu pensava se tinha coragem o suficiente pra me matar
De manhã, sentei no sofá, exausta e insone
Não consegui dançar ou dormir ou descansar
Ela me pediu pra que eu olhasse pra ela e eu pedi pra que ela me internasse
Porque eu queria morrer.
Eu queria parar de machucar quem eu amo.
Eu queria parar de doer.
Naquele mesmo dia, fomos à praia e o mar quebrava violento como os impulsos que eu tinha de quebrar garrafas e enfiá-las no meu pescoço
Minha mãe me implorou pra que eu não entrasse no mar
Ela tinha medo de tudo o que podia me matar
E ela tinha medo de que todos morressem
Eu, por outro lado, encarei as ondas como as velhas amigas que lavavam a dor da minha alma
Eu mergulhei e mergulhei e subi e finalmente respirei
Meu corpo fluía com a água e eu via os olhos da minha irmã que me olhava distante
Ela tentava me dizer que as ondas estavam me levando em direção as pedras
E as ondas arrebentavam em cima da superfície dura como antigos cadáveres, ruínas de seres que foram magníficos um dia
Eu senti a correnteza levantar meus pés e me deixei levar
Eu comecei a desaparecer dentro do mar, para o outro lado das pedras
E eu via minha irmã me acompanhar com os olhos
Enquanto eu decidia se devia ou não nadar
Arrisquei algumas braçadas na direção delas, tentando voltar, deixar que seus corações respirassem
Mas a água continuava a me puxar e por um minuto eu pensei que poderia só parar de me debater
Tudo pareceria um trágico acidente
Minha mãe diria que eu não devia ter entrado no mar
Todos comentariam da ausência de um salva-vidas
E eu esperaria tranquila a onda quebrar em cima de mim, me espalhando e esmagando e misturando às ruínas dos gigantes de pedra
Um minuto. Sessenta segundos. As ondas levavam onze segundos para recuar e quebrar novamente.
Eu decidi viver e saí do outro lado das pedras. O mar me deixou viver.
E eu quero me deixar viver também.

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