Sexathon - Crônica de não-amores bem resolvidos.

Espera aí. Tira suas mãos daí. Isso, deita essas palmas nas minhas coxas, que é melhor, e bem longe do coração. Mas não me observa dessa forma, quando eu não estiver olhando. Porque você deixa a dúvida.
Me deixa dançar descompassada, mas não sorri como se eu tivesse descompassado seu coração, porque isso não faz bem. Você sabe que a gente não é assim, não sabe? Você sabe que damos tão certo justamente por sermos tão diferentes do resto.
Vai com calma, cuidado com essa boca e essa barba. Tudo bem se ela estiver calada, tudo bem roçar no meu pescoço. Mas não abre esses lábios pra falar qualquer coisa bonita, tá? Deixa o silêncio e fecha bem os olhos pra eu não correr riscos.
Agora se afasta que eu vou continuar sentada em cima de você. Vou te afogar com beijos e jogar meus cachos nos seus olhos, mas peço com sinceridade pra você colocar a mão na minha bunda, e não acariciar o meu rosto com essa ternura. Porque você entende, isso não fica bem.
Vem cá, vem. Pode ficar dentro de mim a noite toda, e eu não vou te afastar. Deixa, deixa os vizinhos ouvirem, a gente pode ter a certeza de que eles nos invejam. Mas quando acabar, não deita a cabeça no meu peito. Deita devagar no seu travesseiro e não aspira o meu cheiro pra não ter nenhuma chance de guardá-lo em seus pulmões. Porque isso seria demais pra você, tudo bem? Me adorar seria demais pra esse seu sentir esgarçado.
Pare já com esses sussurros enquanto dorme, eles me deixam desconfortável e vermelha. Acho melhor pararmos de cantar essa música e talvez eu pare de roncar no seu ouvido. Da próxima vez eu saio batida e não encharco sua toalha e seu travesseiro. Me poupo também desse banho gelado e das suas risadas pros meus gritos de desespero e frio. Me poupo desses abraços pra me esquentar e não lembro de você quando fizer cappuccino em casa.
Porque você sabe, isso é coisa de gente que não tem o que fazer. Você entende que meu limerence é só por ballet clássico e barbas em geral (e não pela sua barba com cheiro de cigarro), e eu continuo a entender seu mau-humor e seus silêncios. A gente continua trocando fotos virtuais, mas você guarda aquela que eu te dei bem escondida, pra evitar eventuais confusões em terças chuvosas.
Já que ficamos combinados assim, se despede aqui rapidinho. Deixa eu ver que cor estão seus olhos.
Ah, sim. Hoje você não está cansado.
Amanhã a gente se vê.
Ou não.

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