O sorriso mais bonito do mundo.


Começou o dia. Acorda, escova, lava, cospe. Arruma, varre, espana, aspira. Zum de eletricidade. Come. Escova, lava, cospe. Lê, imita, entende. Sorri.
Dia comum, rotina que segue.
Levanta, veste, gruda. Desce. Passo, degrau, passo. Abre, bate, fecha. Click de metal. Acena. Sobe. Se deixa levar. Desce. Barulho de ônibus, sinal fechado.
Entro.
Sorriem pra mim. Coração dispara. Coração? Que coração, mesmo?
Pequena menina, no máximo com cinco primaveras, no colo da mãe -- sorri com os olhos, porque seus lábios estão cobertos. Seu nariz também. Uma daquelas máscaras meio assustadoras e brancas de quem passou por alguma cirurgia. Uns tubos no pescoço. A cirurgia não assustava, não... E os tubos eram só pedacinhos de plástico. O que assustava era o sorriso, porque me deu uma humanização relâmpago. Termo esquisito, mas é isso mesmo. Me senti tão aceleradamente humana, naquele jeito escorrido e lento, que cheguei a ficar tonta. Todos meus medos e receios e salivas e suores envolveram meus órgãos e eu voltei a ouvir música, em vez de zum e click. Eu, robô daquele dia, acordei. Não existia mais rotina, não existia mais torpor. Aquele era o sorriso mais bonito que eu já tinha visto. Como se dissesse "Pois sim, vale a pena viver."

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