Perspectiva

Tento não me mover. A dor podia ser absurda, mas o frio ainda era maior. Sentia o inverno dentro de mim, congelando minhas entranhas, fazendo minha voz transformar-se em gelo.
- És uma menina frígida de olhos quentes. - disseram-me.
 Via todos os rostos da minha vida passarem pelos meus olhos. Vi aquele que tentou ser tudo por mim, mas enganou-se. Vi o ludibriador.  Vi a decepção, e vi o desespero. Vi o comum. Vi aquele que me amou incondicionalmente. Vi aquela que tinha me dado sua vida, mas não o seu ventre.
Acima de todos eles, pairavam meus segredos. Eram os resultados de meus ressentimentos, eram as traições que eu havia cometido para comigo. Ah, eles eram lindos -- De uma forma bem arquitetada, agitada e ameaçadora. Sabia que não havia nada mais detestável do que aquele punhado de segredos que me comprometiam, mas suas cores eram sedutoras demais.
Dizem que somos o que fazemos. Porém, nossas ações são também nossas palavras, e minhas palavras são cheias de amor. Ainda, meu espírito pode ser ardiloso. Não há nada mais terrível do que saber o que é, mas meus olhos negros já não mentem -- e ainda assim, ainda assim, perceber que sua beleza é salpicada por aquilo que mais teme: Crueldade.

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