Quatro perguntas e dois quartos frios

No enorme quarto branco, deitávamos em uma cama grande demais
Você numa ponta, confortável e sonolento
Eu na outra, desejando você, encolhida, menor ainda
Você me abraçava e acariciava meus cabelos
Virava-se de costas e adormecia
E eu, morrendo pelo seu toque, me perguntava baixinho
"Por que você não encosta em mim, meu amor?"
E acordava em prantos, porque nos meus sonhos você me abraçava
Me tomava pelos braços e me fazia beijar-lhe a boca até sufocar,
Através da cama que deixava uma distância quilométrica entre nós.

E na noite de calafrios e tremedeira
Quando eu já não cabia mais no meu corpo
Você tocava minha perna no bar
Brincava sobre minha lingerie bonita e minha calça de couro
Mas quando finalmente estávamos sozinhos
Você desviou o olhar pra sua parede azul
E eu, morrendo pelos seus olhos, me perguntava baixinho
"Por que você não olha pra mim, meu amor?"
E já não tendo dormido, não podia acordar
E lidava com sua raiva e seu desprezo porção por porção
Sem conseguir engolir, eu chorei até vomitar

E durante todos os dias de espera,
Você se agarrava ao seu telefone e às suas outras meninas
Eu, querendo seu toque, seu tesão,
Você, distante e virtual, mandava suas fotos e direcionava seu desejo
Que eu tanto queria dentro e por cima e embaixo de mim
E já sem forças e sem esperança, eu gritava no seu ouvido
"Por que você não me ama, meu amor?"
Mas pra todas as perguntas que eu fazia,
sua resposta era sempre a mesma
Um ombro que se desvencilha do abraço,
O silêncio mórbido no telefone,
Um estalar da língua,
sua reprovação constante e seu desprezo revelado,

E eu, já cansada, sempre amando, e doloridamente pulsante, pergunto,
"Qual é o seu problema, meu amor?"
Sem resposta, abraço seus silêncios
Invisto em meus calmantes
E na ideia de que nenhuma criatura no mundo,
Nem eu, muito menos você,
Nasceu pra poder amar.

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