Descom(passo) - Crônica de pés que abraçam


Esta noite, sonhei com seus pés.
Acordei feliz com a sensação de pés quentinhos. Pensei em te ligar e dizer que sentia saudades de você. Mas não era o caso. Tentei novamente te ligar e dizer que sentia saudades dos seus pés. Mas não era verdade. Acordei perfeitamente feliz com a sensação de calor que só meus pés sozinhos debaixo do meu edredom preferido poderiam me proporcionar. Sentia saudade de alguma coisa, no entanto. O que era? O que era o buraco no edredom e no peito que fazia com que eu me revirasse de um lado pro outro e pensasse com ternura no Rivotril emergencial escondido no meu armário?
Sentia saudades de quem eu era quando seus pés agarravam os meus. Perfeitamente quadrados, com o dedão mais horrendo que eu já vi na vida. Se deixavam ser agarrados e enroscados nos meus pés de bailarina, tão horrendos quanto, com a vantagem de serem mais ágeis e flexíveis. Quando nossos pés se abraçavam, meu coração acalmava. Meu sono acalentava. Era a sensação de estar em casa. Sonhei que nossos pés se abraçavam daquele jeito que costumavam se abraçar durante a madrugada. Senti seu cheiro delicioso e a luz que batia suave no meu rosto antes de acordar ao seu lado e tentar agarrar novamente seus pés. Eu amava seus pés. Eu amava a luz e o cheiro da sua pele. Eu amava você.
Esta noite, sonhei com seus pés.
Acordei feliz. Pensei em te ligar e dizer que amei você.
Acordei feliz por ter amado você.

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