Você que é blues e rock'n roll (ou o quanto eu passei a amar B.B. King)

Naquela manhã, eu acordei vestindo B.B. King. Ele não me julgava. Também não se importava por eu conhecer, no máximo, cinco de suas músicas. Ele só estava lá (de pé, sentado ou de costas, não me recordo), compartilhando calor comigo, indiferente ao excesso de tequila e felicidade que rondava um canto qualquer do Largo do Machado. B.B. King cantava nosso blues de adoráveis desconhecidos se adorando.
Olho pro lado.
Eu não respiro.
Eu não me movo.
Eu sei exatamente o que me espera.
Seus cabelos curtos estão descabelados e com o topete que você odeia. Seus olhos naturalmente semi-cerrados, naquele momento, enxergavam qualquer universo paralelo, alheios à realidade.
Eu espero.
Eu finalmente respiro. Deus, você é incrível.
Por qualquer motivo desconhecido, começo a ouvir, devagarzinho, dentro da minha cabeça, "I need you, baby". Sorrio pra sua camisa. Sorrio pras nossas roupas espalhadas pelo quarto iluminado. Sorrio pro seu rosto adormecido antes de te beijar.
Beijo você. Beijo por inteiro. Deixo suas mordidas marcarem meu corpo. Suo, grito, imploro. E quero. Quero até não aguentar mais. Quero até querer cada vez mais.
Em nossa saciedade momentânea, você adormece mais uma vez. Me abraça enquanto dorme e eu sinto uma vontade incontrolável de rir de tanta doçura. Você, que era ímpeto e vontade e um tipo muito específico de loucura, me cativava. Me arrancava gargalhadas nos meus momentos mais absurdos de timidez. E, então, quando adormecia, era doce.
Me desvencilho dos seus braços muito mais fortes do que deveriam ser e abandono B.B. King dobrado em cima de alguma cama, ou prateleira, ou móvel qualquer que não parecia relevante naquela cena.
Olho pra você. Deitado e exposto, completamente exausto e contente. Quero a noite inteira novamente, mas só tenho mais alguns segundos antes de te dar um beijo e fugir porta afora, deixando você adormecido em um apartamento destrancado.
Bom dia, mundo real.
Boa noite, B.B. King.
Até a próxima.

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