Menina Prozac - novo diagnonsense

Capítulo 1 - As mãos e corredores fantasmas
O problema começou quando eles me seguravam
Enquanto eu tremia e meu corpo recusava
A aceitar que removessem meus órgãos
Eles me seguravam e eu gritava
Eles me seguravam e você morria
Eu gritava e você desistia
Des-existia
E então eu cheguei naquele lugar
Eu sentia as mãos de todas as mulheres
Que amo, amava, amei
Elas me erguiam acima da sua morte
Elas sustentavam minha coluna
E inflavam meus pulmões
E apertavam meu coração para que ele continuasse batendo
Suas mãos dentro do meu peito
Apoiadas em minhas vértebras
Conectadas os meus dedos
Me guiavam para uma despedida que eu jamais teria

Capítulo 2 - O quarto escuro e o clube do luto
Entrei no quarto escuro e seus olhos não abriram
Eu não te vi sorrir e eu não entendia
Todas as mãos me esvaziaram e rapidamente
Foram levadas a bocas chocadas e começaram a sufocar
O choro de todo o mundo viúvo
Eu abraçava você e seus lábios estavam tão gelados
E eu dizia "eu te amo, eu te amo, eu te amo"
Mas sua boca selada não se movia e eu via
Seu sangue nas minhas mãos
E nos meus lábios, só o sangue
Por dois segundos eu acredito que você vai se levantar e sorrir, dentes encharcados de vermelho-morte
Uma mão me alcança e ela é quente e viva e eu ouço meu nome
Não é você quem fala meu nome com preocupação
Enquanto eu te aperto tanto que seu sangue já está nos lençóis e nos meus dedos
Com seu sangue nas minhas mãos
Ela me pede que eu tome cuidado com o corpo.

Capítulo 3 - O Corpo
O corpo não era real pra mim
Eu ainda falava com você
Seu fantasma me assombrava morto
Sua presença arrancada do mundo
Eu te abraçava enquanto entrava e via seu corpo
Duro pálido e frio
Os dias se emendavam e seu corpo me assombrava
Eu sabia que ele estava embaixo da terra, e me fizeram te colocar no chão
E eu ia pra casa sabendo que eu tinha um compromisso
Às 3h da manhã você começaria a morrer de novo
E dessa vez, eu faria o Corpo funcionar.

Capítulo final - Diagnonsense e o atestado de óbito
Eu revivi sua morte por duas semanas
Deitada dentro das cápsulas dos meus remédios para dormir
Eu virava para o lado e abraçava o ar
Sem conseguir respirar, eu acordava todas as noites
Pedia que não me deixasse
Mas todas as noites você morria de novo
Você tremia e seus braços ficavam rígidos
E você dormia no meu colo pra nunca mais acordar
Como uma mãe violenta, as ondas de choque quebravam todos os dias
3h14, você acordaria
Sua perna era o problema
3h17 eu estava exausta demais
Eu acreditava de novo que ia passar
13h34 você morreria
Seu atestado de óbito dizia que seu cérebro só desistiu
E eu estava condenada a viver a sua morte por todos os dias
Dizem que o trauma não é o momento em que você vive, mas o momento em que você percebe
Que você passou por um trauma
E quando você revive a morte de alguém todos os dias
Eles chamam de Transtorno de Estresse Pós-Traumático
Sem saber que não existe nada
Depois do trauma.

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