Canção secreta.


Ela olhava pela janela, preguiçosa como as nuvens no céu nublado. Ele a observava com seus olhos desenhados e profundos, como se houvesse algo mais a ser dito, mas não havia. E então, eles se abraçariam e provariam o cheiro e o sabor um do outro, como se fosse a parte mais natural da vida de cada um. E cada toque seria um presente, cada beijo seria uma grande descoberta. Nenhuma palavra foi dita - mas os olhos se comunicavam como nunca. E ele falava naquela voz macia de secretas canções, dizia que os olhos dela a entregavam. E ela dizia coisa alguma, porque sabia que se dissesse, sua voz iria tremer. E sua voz tremia quando ela dizia:
- Você melhora a minha vida.
Ela estava entregue em seus braços tranquilos, e ele estava agitado pelas possibilidades e paralisado pela euforia do momento. Ela falaria sobre sua avó e ele falaria sobre sua irmã. O que o magoa, o que a irrita, o que faz os dois sorrirem. Ela gargalhava e ele sorria, porque ele só sabia sorrir daquele jeito encantador, e deixá-la sem respirar por alguns segundos. Porque ela sabia.
Sabia que se ele a tocasse, ela aceitaria.
Se ele a beijasse, ela congelaria.
Se ele ousasse partir, ela despedaçaria.
E se enfim, ele ficasse, então talvez ela amasse. E na intensidade daquele possibilidade absurda, ela se perdeu e talvez o estivesse perdendo para sua própria sinceridade, não sendo amor ainda, mas podendo ser um dia.
E naquela tarde preguiçosa e indistinta, era tudo o que ela conseguiria pensar.
Ah, as possibilidades.
Mais sorrisos, menos palavras. Mais olhares, menos estranheza. E naquela tarde de confiança, eles fugiram juntos, mas ela fugiu de todas as possibilidades. Ele não percebeu, ela agradeceu. Ela continuava ali, mas ele iria embora ... (?) Não era mais uma certeza.
E então talvez a vida realmente fosse melhor, vivendo e deixando viver.

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