Os palavrões cantados e a noite de catarse (Ou todos os erros que não devo repetir)


No começo, era só o giro. A rotação incessante do mundo de dentro dos meus olhos. Girava, girava, girava. Eu não sucumbia, apenas flutuava desconfortável. As cenas entrecortadas confundiam meu raciocínio.
Aquele olhar desapontado, como se dissesse "Eu esperava mais de você". E então de volta pro abraço apertado que eu fiz questão de dar, dizendo "Tão lindo, tão cheiroso", e se você soubesse, tão querido. E então na minha frente, a voz que de fato dizia: Eu não consigo me apaixonar. Eu não vou me apaixonar por você. e de dentro do meu coração, aquela criança curiosa que sai pra perguntar "E se pudesse, faria?".
O desapontamento do meu próprio olhar misturado com meu sorriso torto e debochado. O desespero do disfarce.
Minha própria incapacidade, a verdade que eu não queria admitir. "Você está me manipulando, não é?". Como se eu pudesse.
"Eu gosto muito de você, como...", e com tanto medo de ouvir como é que ele gostava de mim, completei rápido "Pessoa". Ele se calou e eu percebi que nunca mais ia saber.
E aí de volta pr'aquela série de olhares desapontados e perturbados com minha indiscrição desconhecida ou evitada. Sorrisos preocupados e um consentimento. Era tudo o que eu precisava. Derrubo um drink, danço na ponta dos pés e agradeço a proteção que o acaso dá aos inconsequentes.
E de repente desapareço. Não sei como cheguei ali, não sei como vou embora, mas estou e gosto. Aproveito o toque desesperado contra meu corpo e adormeço com o coração dormente e a pele formigando. Relembro um sussurro distante e estremeço -- "Nunca se amou de verdade até deixar seu coração nas mãos de uma bailarina." Abro os olhos e procuro pela voz que um dia disse isso, mas já se foi há tanto tempo. Observo outro corpo, outros olhos cerrados ao meu lado, e a respiração profunda. Choro protegida dos olhos dele e da lua
Me afundo nas minhas dúvidas, mas agradeço pelos impulsos que me trazem as memórias que eu jamais poderei prolongar.
Quando a noite é de catarse, a manhã é de arrependimento.


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