O outro significativo e a outra.

Chegou com o dedo em riste e os olhos cheios de ódio. Seus lábios, sempre gentis, proferiam palavras terríveis. Meus ouvidos levavam o som até meu cérebro, e meu cérebro autoritariamente obrigava meu coração a se partir. A voz que eu tanto amava tremia junto com suas mãos, que gesticulavam perdidas, me expulsando da sua casa, da sua vida e do seu coração.
Quando corri pro seu peito pra me abrigar e fazer com que você engolisse a verdade, não percebi que alguém já morava ali. Bem no cantinho do seu coração, em manhãs clandestinas das quais eu compartilhava (embora sem o mesmo prazer). As lacunas que eu preenchia com qualquer beijo que eu pudesse transformar nos seus eram as mesmas que você preenchia comigo, pra ter alguém satisfazendo seus desejos até encontrar qualquer menina absurdamente linda?
E quando eu olhava as estrelas à beira da sua vida antiga, compartilhando desse paradoxo temporal onde passado, presente e futuro se uniam com seus braços em volta de mim, você imaginava outra pessoa ali no meu lugar? Pensávamos juntos em futuros distintos?
Quando eu abraçava seus cachorros e rolava no chão com eles, rindo como uma criança, você olhava pra mim e cogitava esgueirar-se para fora e buscar sua estranha perfeita para apresentar à toda sua família? E quando falávamos de Paraty, e você tão bruscamente me mandou esquecer, será que você cancelava seus planos comigo só pra planejar melhor ao lado dela?
Quando você partiu meu coração, pensou que estava remendando o seu?
Quando jogou seu amor na lata do lixo e desperdiçou o meu, chegou a se culpar por um segundo pela névoa elaborada com a qual você me envolveu?
Quando você olhou pra mim, alguma vez me viu?
Ou, para além do meu amor incondicional, foi sempre a outra que você enxergou dentro dos meus olhos?

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