A menina dos lábios ensangüentados pt. I - A queda


- nós não sentimos da mesma forma
- eu ainda não estou pronto
- eu preciso de espaço
- eu não posso te ver
- eu espero que você esteja feliz
- você é muito profunda
Os diálogos são tão repetitivos
Como cenas dos filmes que costumavam ser meus favoritos
E agora caminham descoloridas em seu passo descompassado
Descoloridas em tons de sépia dez anos a frente do meu tempo
Caminhar é tão cansativo
Recomeçar é tão doloroso
Seguir em frente toma pedacinhos meus
Substituindo pensamentos profundos por sonhos plásticos e gotinhas de ansiolítico
Fazendo toda forma de amor parecer precipício
Toda forma de beleza parecer traiçoeira
Toda lágrima ser um pouquinho de veneno
Que engasga as esperanças de um futuro sem abandono
Que sufoca o destino com garras molhadas de desespero
A menina de lábios ensangüentados queria voar
Achava que consumindo seu coração com dentes vorazes talvez achasse a leveza
E algum vento carregasse seu peito vazio pra longe dali
Então destroçou seu músculo pulsante com lábios meigos
E dentes tortos e rudes
Pobre coisinha, não notava a bola de ferro atrelada ao seus pés
Caindo no precipício, pensou que voava
Sem perceber que não era a leveza sua dona, mas a gigante bola de ferro
Que a guiava surda, cega e iludida, aos gritos
Para seu destino irremediável: a queda

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