Ideias desconexas e o assassino de borboletas.

Um daqueles dias que você levanta sabendo que algo vai dar errado. Pisa em cocô de cachorro, porque seu cachorro está passando mal. Mas tudo bem... dizem que dá sorte! Vai tentando manter o otimismo com relação à toda a sujeira no apartamento, e o programa do dia não tá indo muito bem, mas a gente vai levando. Daí ele não liga. O amigo esquece. O companheiro fura. A vó tá com dor. Mamãe desaparece. O deus grego que apareceu do nada, sumiu da mesma maneira. Não dá pra ir à festa. Tem que fazer compras. E o cachorro? O cachorro continua sujando tudo.
Mas tudo bem, vamos acordar cedo e passear de bom humor. Desce a escada, vira o pé. Abre a porta e quebra a unha. Suspira e respira. Exala. Toma um longo banho... Ah! Banhos! Banhos melhoram a vida de qualquer pessoa. Foram ao mercado: ela e seus problemas. Não somente os alimentava, também os levava para passear!
Mas no mercado, fica distraída. Perde o dinheiro, derruba o telefone. Carrega peso, sente dor, mas tudo bem, estava viva! Vai andando pelo caminho e vê uma borboleta pousada no chão. Ali, impetuosa, colorida e frágil. Sorri repentinamente. "Je suis un papillon perdu parmi les lions". Sou uma borboleta perdida entre os leões. Sabe que devia espantá-la, mas é tão linda onde está.
Sobe escada, joelho reclama. Chega em casa, nada funciona. O cachorro? Continua lembrando que a vida é mesmo uma merda. Literalmente.
Sai de novo. Remédio pro cachorro. Bananas. Mercado. Oficina. Locadora. Vai caminhando lentamente, esperando encarar novamente a borboleta audaciosa. Sorri. O brilho multicolorido das asas está ali -- mas veja só que tragédia, o sorriso se transforma num arfar de puro choque. Lá estava a pobre borboleta esmagada por algum pé apressado que não conseguiu atentar à sua beleza.
Engole seco. Que destino cruel, ser uma borboleta. Ainda mais perdida entre leões! Pobrezinha.
É. Tem dias que você acorda com o pé esquerdo. Outros dias você é pisoteado por um.

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