No close pro fim

Por essas e por outras, vou fazer um jogo de dardos com sua foto. Vou usar pijama furado e esmalte azul. Vou proibir o mundo de ouvir "Baby, I'm yours'', porque é a pior música da face da Terra. Vou queimar todas as fotos que eu encontrar do Penny Wise (as que você usou pra me dar sustos sem fim) e reafirmar meu medo de palhaços, minha fobia de criaturas muito pintadas e dentuças, e minha mania insistente de assistir filmes que vão me manter acordada. Vou torcer para o Batman, vou ouvir música mexicana e desenhar meu próprio corpo nu. Vou silenciar todas as imitações do Gru, nunca mais reproduzir minha cara de malvada ou rir das piadas dos desenhos animados. Vou desafinar e errar todas as letras, inclusive as do Chris Cornell. Vou dançar sozinha o tempo todo, num tributo à sua irritação. Vou subir nas sapatilhas de ponta e enfeiar os pés que você tanto amou. Vou usar batom vermelho e sorrir, vou gargalhar com escândalo e cuspir a pasta de dente a dois quilômetros da pia, vou deixar cabelos espalhados pelas roupas de todos que eu abraçar (para sua infelicidade!) e chamar todos os atendentes de "querido", porque é assim que eu sou. Irritante. Ainda mais longe de você.
Vou guardar meu amor desesperado por você na minha gaveta mais profunda e esquecer meus sapatos de verniz preto. Vou deixar minhas luvas de boxe e meu tensor de tornozelo na sua sacola fedida do kickboxing. Vou devolver seu violão e nunca mais assistir nossos vídeos juntos. Vou te enterrar bem fundo, pra ver se um dia eu consigo abrir a porta devagar, encontrar seus olhos de pedinte e te devolver tudo o que você perdeu: Eu.
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