O espetáculo de nós dois

Nossos pés tocaram o palco iluminado ao mesmo tempo. Dançamos. Sorrimos. Enlouquecemos diante de uma platéia perplexa e interessada em nossa performance bizarra. Girei em cima de meus pés, e você girou em volta de mim. Os holofotes ofuscavam meus olhos, mas não me impediam de te ver completamente. Demos as mãos, estávamos despidos de roupa e rancor. Derrubamos os estandartes de guerra com gargalhadas, fizemos cair por terra tudo o que era nocivo, e por fim nos abraçamos. Nossas sombras inconspícuas se fundiram, e fizemos amor um com o outro, e com nossas próprias pessoas -- nos transformamos em uma forma fantástica e extraordinária. Seu suor me cobria, e nossa dança repetitiva se tornava frenética. Suas mãos eram minhas, ou minhas mãos eram as suas? Nossos olhos não viam nada além de nossas almas. Te pertenci, vi seu amanhecer e seu crepúsculo chegarem sem que eu pudesse prever. Nossas peles frágeis ferveram, a lassa carne derreteu diante de tão ardoroso amor, nossas almas se despediram dos órgãos e do cérebro, e dançaram diante do público que já não era platéia, mas corpo de baile, e fervia, dançava e cantava em nossa orgia de sensações. Nossas vozes exaltaram em um coro insano de prazer e amor e pertencimento e loucura... e vida! Éramos tão vivos, tão intensos, tão nossos. Éramos sem fim.

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