Homens armados, o dia do incêndio e outros episódios de angústia
Um email. Penso logo ser uma das suas várias mensagens insistentes sobre amor e recomeço. Não leio com muita pretensão, mas com muito orgulho ferido e saudade que a gente nunca admite. Ainda rio lembrando das noites em que fazíamos comida e eu me encolhia no seu sofá, no seu lugar. Lembro disso antes de começar a ler a mensagem. Não consigo me concentrar porque fala alguma coisa sobre homens com armas de fogo, uma briga por causa de faróis altos e aquelas suas atitudes de macho alfa que tanto me irritavam. Mas
dessa vez não foi você. E quando você diz que saiu com o carro e foram atrás de você, eu morro de medo. Eu tremo por dentro e já começo a fazer bico pra chorar, porque você ainda consegue ser a imagem da segurança e do politicamente correto. E você diz que se desculpou e voltou pra casa são e salvo, e eu continuo a tremer com a impossibilidade de você ter morrido.
Porque você podia estar morto. Mas pra mim, era impossível. Você? Você é indestrutível! Teimoso como uma mula, forte como um touro, impossível! Você é toda essa insistência em se agarrar à vida, com toda sua raiva e seu ímpeto. E se você fosse um fantasma? E se fosse como nos filmes e eu estivesse recebendo uma mensagem mediúnica?
Pego o telefone e te ligo. Fico pensando no dia do incêndio no seu trabalho e naquela maneira heróica que você tinha de querer socorrer a todos e salvar o dia. E aí você subiu as escadas inalando fumaça e tirou todo mundo do segundo andar. E ainda apagou o fogo. E me ligou rindo pra contar "Ei, amor, a loja pegou fogo. Estou indo pra casa, vou poder te ver mais cedo". Eu sentia tanta raiva desse seu jeito de tornar tudo positivo com a ideia de me ver. Era um maldito incêndio e você estava com os cabelos e as sobrancelhas chamuscadas, mas não ligava, porque era um motivo pra sair mais cedo e me ver. E eu estava brava por não entender essa forma de amor. Por não alcançar esse tipo de devoção. Até que eu te vi, sorrindo e intacto, e te abracei com força porque você podia ter morrido queimado. E briguei com você por querer ser o herói, porque eu preferia ter você sendo um covarde, do que te perder sendo nobre.
Egoísta, eu era. E ainda sou.
E quando ouço sua voz no telefone, penso no que você me disse. "Só consegui pensar no quanto te amava, então vou te deixar seguir em frente". E deixo as chamas recomeçarem, me atiro na frente do projétil que jamais ensanguentou seu peito. Queria dizer que mil vezes morreria no seu lugar. Queria dizer que não suportaria chegar em casa e ver sua foto no noticiário. Queria que você se cuidasse mais.
Desligo.
O que vai ser da minha vida sem você? Não morre, não. Aqui, nosso amor não dorme, e jamais dormirá.
dessa vez não foi você. E quando você diz que saiu com o carro e foram atrás de você, eu morro de medo. Eu tremo por dentro e já começo a fazer bico pra chorar, porque você ainda consegue ser a imagem da segurança e do politicamente correto. E você diz que se desculpou e voltou pra casa são e salvo, e eu continuo a tremer com a impossibilidade de você ter morrido.
Porque você podia estar morto. Mas pra mim, era impossível. Você? Você é indestrutível! Teimoso como uma mula, forte como um touro, impossível! Você é toda essa insistência em se agarrar à vida, com toda sua raiva e seu ímpeto. E se você fosse um fantasma? E se fosse como nos filmes e eu estivesse recebendo uma mensagem mediúnica?
Pego o telefone e te ligo. Fico pensando no dia do incêndio no seu trabalho e naquela maneira heróica que você tinha de querer socorrer a todos e salvar o dia. E aí você subiu as escadas inalando fumaça e tirou todo mundo do segundo andar. E ainda apagou o fogo. E me ligou rindo pra contar "Ei, amor, a loja pegou fogo. Estou indo pra casa, vou poder te ver mais cedo". Eu sentia tanta raiva desse seu jeito de tornar tudo positivo com a ideia de me ver. Era um maldito incêndio e você estava com os cabelos e as sobrancelhas chamuscadas, mas não ligava, porque era um motivo pra sair mais cedo e me ver. E eu estava brava por não entender essa forma de amor. Por não alcançar esse tipo de devoção. Até que eu te vi, sorrindo e intacto, e te abracei com força porque você podia ter morrido queimado. E briguei com você por querer ser o herói, porque eu preferia ter você sendo um covarde, do que te perder sendo nobre.
Egoísta, eu era. E ainda sou.
E quando ouço sua voz no telefone, penso no que você me disse. "Só consegui pensar no quanto te amava, então vou te deixar seguir em frente". E deixo as chamas recomeçarem, me atiro na frente do projétil que jamais ensanguentou seu peito. Queria dizer que mil vezes morreria no seu lugar. Queria dizer que não suportaria chegar em casa e ver sua foto no noticiário. Queria que você se cuidasse mais.
Desligo.
O que vai ser da minha vida sem você? Não morre, não. Aqui, nosso amor não dorme, e jamais dormirá.
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