(Uni)Verso Paralelo
Em um universo paralelo, nos conhecemos na livraria, porque não frequentávamos boates, nem festas alternativas. Eu usava óculos e lia qualquer romance juvenil, e você passava apressado com terno e gravata. De manhã, você gostava de tomar café puro com pouco açúcar, e seu almoço sempre tinha salada. Eu odiava salada e gostava de saias curtas. Quando você me ligava de manhã pra eu não me atrasar pro trabalho, eu te mandava um beijo querendo te xingar, mas ao longo do dia pensava em maneiras de te recompensar. Você escrevia poesia pra mim em guardanapos que vinham junto com seus lanches saudáveis. Eu gostava de correr e de dançar noites inteiras com desconhecidos tentando borrar meu batom vermelho e me derrubar dos saltos, e você preferia ficar em casa assistindo ao jornal e lendo as notícias do dia. Eu quase nunca ficava com raiva de você, e se você não ligasse, eu encontrava outro estranho pra dividir a cama. Já você, não. Você era atencioso demais, e um tanto ciumento. Dizia que era homem feito e que não queria joguinhos na sua vida. Era homem feito e queria casar e ter filhos. E eu ria na sua cara porque não acreditava em romance, mas em praticidade.
Ainda assim, nos dávamos muito bem. Alguns diziam que nos amávamos. Começamos a namorar com alguns meses de convivência e logo exibíamos nossas fotos apaixonados em todas as redes sociais cheias de hashtags, porque não éramos bloqueados e não tínhamos o menor problema com relacionamentos.
Você fazia boxe e gostava de ópera e cappuccino com muita canela. Eu odiava chocolate e balé me dava sono. Você gostava de novela e assistíamos juntos antes do jantar. Aliás, a televisão era nossa melhor amiga! Tomávamos vinho doce e você fazia a sobremesa. Detestávamos karaokês e música alta em geral. Essa história de cantar alto era irritante e só nos servia se estivéssemos bêbados. Nós dois condenávamos maconha e se alguém fumasse cigarro por perto, ficávamos irritados. Íamos ao cinema toda semana, assistir todos os sucessos hollywoodianos. Você criticava o Tarantino e eu segurava no seu braço porque não gostava de ver tanto sangue. Dormíamos todas as noites abraçados, e nosso sexo era sempre cheio de carinho e delicadeza. Você me apresentava pra sua mãe como a mulher da sua vida, e eu te levava pra passear com meus cachorros, afilhados e tomávamos sorvete caminhando em direção ao pôr-do-sol.
Isso tudo era lindo. Em um universo paralelo. Porque na realidade, não nos amamos. Bem, não desse jeito convencional. Ah, sim, você odeia canela e eu amo ballet, com dois l's e um t. Eu odeio salto alto e você sai todas as noites, com quem você quiser. Respiro poesia e você adora tecnologia. E vivemos nos atacando, beliscando e adorando, dia sim, dia não, conforme a vontade dita. Cantamos alto, em qualquer esquina ou karaokê. Dizem que universos paralelos existem. Eu não acredito. E fico grata.
Ainda bem que não é real.
Do jeito que é, meu amigo, é muito mais bonito.
Do jeito que somos, meu amor, é perfeito.
Ainda assim, nos dávamos muito bem. Alguns diziam que nos amávamos. Começamos a namorar com alguns meses de convivência e logo exibíamos nossas fotos apaixonados em todas as redes sociais cheias de hashtags, porque não éramos bloqueados e não tínhamos o menor problema com relacionamentos.
Você fazia boxe e gostava de ópera e cappuccino com muita canela. Eu odiava chocolate e balé me dava sono. Você gostava de novela e assistíamos juntos antes do jantar. Aliás, a televisão era nossa melhor amiga! Tomávamos vinho doce e você fazia a sobremesa. Detestávamos karaokês e música alta em geral. Essa história de cantar alto era irritante e só nos servia se estivéssemos bêbados. Nós dois condenávamos maconha e se alguém fumasse cigarro por perto, ficávamos irritados. Íamos ao cinema toda semana, assistir todos os sucessos hollywoodianos. Você criticava o Tarantino e eu segurava no seu braço porque não gostava de ver tanto sangue. Dormíamos todas as noites abraçados, e nosso sexo era sempre cheio de carinho e delicadeza. Você me apresentava pra sua mãe como a mulher da sua vida, e eu te levava pra passear com meus cachorros, afilhados e tomávamos sorvete caminhando em direção ao pôr-do-sol.
Isso tudo era lindo. Em um universo paralelo. Porque na realidade, não nos amamos. Bem, não desse jeito convencional. Ah, sim, você odeia canela e eu amo ballet, com dois l's e um t. Eu odeio salto alto e você sai todas as noites, com quem você quiser. Respiro poesia e você adora tecnologia. E vivemos nos atacando, beliscando e adorando, dia sim, dia não, conforme a vontade dita. Cantamos alto, em qualquer esquina ou karaokê. Dizem que universos paralelos existem. Eu não acredito. E fico grata.
Ainda bem que não é real.
Do jeito que é, meu amigo, é muito mais bonito.
Do jeito que somos, meu amor, é perfeito.
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