Ao outro significativo - pt. II
Hoje notei que sou santuário de você. Cercada pelas memórias de fevereiro, com um cheiro muito doce que eu senti pela primeira vez quando fugi pra sua casa. Você me ligou no meio do caminho querendo desmarcar porque estava insolado. Naquele dia, não percebi que você machucaria meu coração de maneira recorrente. E eu perdoaria você todas as vezes em que você o fizesse, ainda que seu perdão jamais fosse pronunciado. Você, que nunca me pedia desculpas, enrolava seus braços macios em torno de qualquer corpo que pedisse, mas eu valorizava seus abraços como ninguém jamais faria.
Hoje, notei seus olhos se fazendo de vesgos na foto guardada na minha caixinha. Notei seus lábios sempre corados fazendo careta. Logo embaixo, o livro do Kundera que me fez perceber que tinha me apaixonado por você, só porque eu não conseguia dormir ao lado de ninguém, mas dormia bem quando meus pés se agarravam tenazes nos seus.
Ainda hoje, notei também aquele botton que você me deu naquele bloco de carnaval. Lembrei que te dei a mão e te puxei correndo pra longe da multidão pra beijar sua boca. E um anel fluorescente do dia em que você disse que sentia qualquer coisa assim assim por mim. E me pediu pra ficar.
Passeio pelas nossas lembranças todos os dias, querido.
A lanchonete 24h em que você me levou pra curar meu desespero às quatro da manhã. A estação de metrô onde você me encontrou. As músicas que cantamos e dançamos juntos repetidamente. As fotos, cartas, bilhetes, cadernos, palavras, angústias, perguntas, interrogações, e todas as coisas com as quais eu me cobri e revesti acreditando em você, meu querido amigo, amante, confidente... inexistente.
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