O outro significativo
No táxi, eu encosto a cabeça no seu ombro e você toca meu braço com dedos bem levinhos. Seu cheiro que não muda, essa mistura engraçada de cigarro com qualquer coisa muito gostosa, fica preso no meu cabelo e eu sinto pelo resto da noite. Do seu lado, eu posso brincar. Exercitar minha meninice, minha libertinagem e minha falta de escrúpulos que me faz falar alto e gargalhar. Sentados no banco de trás, somos qualquer coisa. Trabalhamos pro Coppola. Somos entrevistados pela TV nacional. Esbarramos com o Woody Allen. Conversamos com o Keith Richards (Eu juro que conheço o Keith Richards, só não sei se você conheceu mesmo).
No meio da rua, eu tiro o salto alto porque não aguento mais fingir que sou uma lady, e caminho descalça pelo asfalto da zona sul. Você resolve me acompanhar e tira o sapato e as meias. As pessoas nos observam intrigadas e nós rimos, rimos, rimos.
Eu sei que você acha que eu falo demais sobre o passado e que minhas perguntas são inconvenientes. Também te acho fácil demais, desapegado demais e um potencial babaca. Mas eu adoro tudo isso sobre você.
Do seu lado, posso comer sorvete de madrugada e não me sentir a bailarina mais indisciplinada da face de Terra. Também não tenho medo de falar dos meus segredos e das minhas pretensões (das quais você ri abertamente e diz que eu sou mesmo muito sonhadora). Do meu lado, você come o melhor bolo de chocolate do mundo. Cutuca os cravos mais gostosos do mundo. Dá as gargalhadas mais bonitas.
Olha, você é todo errado. E eu sou um dos erros que você insiste em repetir.
Nós dois somos problema. Nós dois somos ridículos. Morremos de medo, paranóia, maluquice.
O que me conforta no final do dia é saber que você vai ouvir minha linguagem particular e tentar entender. E quando não entender e eu sentir medo, você vai fazer uma daquelas coisas sensíveis que eu te ensinei, como colocar a minha mão no seu coração, e eu vou sentir vontade de chorar porque você é o insensível mais sensível de todos os tempos. Você vai se irritar, se cansar ou se esquecer, e vai ficar dias sem dizer coisa alguma. E de repente, quando eu mais te detestar por não estar no meu espetáculo, por não ser uma pessoa presente e não me ouvir chorar pitangas, você vai me mandar a música que está ouvindo naquele exato momento. Aí eu vou sorrir.
Porque de todas as pessoas que você podia ter, de todas as coisas que poderíamos compartilhar, encontramos um ao outro. Porque você me ensina e eu te corrijo. Você me olha, e eu te vejo. E de todas as coisas que quero no mundo, quero ainda mais o seu bem.
Você não é nada meu.
Não é meu amigo, completamente.
Não é um amor, definitivamente.
Você não é. Você significa.
Você não é "o", não é "aquele", não é "o que foi". Você é o outro. O outro que significa. Minha linguagem particular que se transforma em lógica através dos seus olhos cansados.
Você me tem.
Ao Paulo. Obrigada, meu querido.
No meio da rua, eu tiro o salto alto porque não aguento mais fingir que sou uma lady, e caminho descalça pelo asfalto da zona sul. Você resolve me acompanhar e tira o sapato e as meias. As pessoas nos observam intrigadas e nós rimos, rimos, rimos.
Eu sei que você acha que eu falo demais sobre o passado e que minhas perguntas são inconvenientes. Também te acho fácil demais, desapegado demais e um potencial babaca. Mas eu adoro tudo isso sobre você.
Do seu lado, posso comer sorvete de madrugada e não me sentir a bailarina mais indisciplinada da face de Terra. Também não tenho medo de falar dos meus segredos e das minhas pretensões (das quais você ri abertamente e diz que eu sou mesmo muito sonhadora). Do meu lado, você come o melhor bolo de chocolate do mundo. Cutuca os cravos mais gostosos do mundo. Dá as gargalhadas mais bonitas.
Olha, você é todo errado. E eu sou um dos erros que você insiste em repetir.
Nós dois somos problema. Nós dois somos ridículos. Morremos de medo, paranóia, maluquice.
O que me conforta no final do dia é saber que você vai ouvir minha linguagem particular e tentar entender. E quando não entender e eu sentir medo, você vai fazer uma daquelas coisas sensíveis que eu te ensinei, como colocar a minha mão no seu coração, e eu vou sentir vontade de chorar porque você é o insensível mais sensível de todos os tempos. Você vai se irritar, se cansar ou se esquecer, e vai ficar dias sem dizer coisa alguma. E de repente, quando eu mais te detestar por não estar no meu espetáculo, por não ser uma pessoa presente e não me ouvir chorar pitangas, você vai me mandar a música que está ouvindo naquele exato momento. Aí eu vou sorrir.
Porque de todas as pessoas que você podia ter, de todas as coisas que poderíamos compartilhar, encontramos um ao outro. Porque você me ensina e eu te corrijo. Você me olha, e eu te vejo. E de todas as coisas que quero no mundo, quero ainda mais o seu bem.
Você não é nada meu.
Não é meu amigo, completamente.
Não é um amor, definitivamente.
Você não é. Você significa.
Você não é "o", não é "aquele", não é "o que foi". Você é o outro. O outro que significa. Minha linguagem particular que se transforma em lógica através dos seus olhos cansados.
Você me tem.
Ao Paulo. Obrigada, meu querido.
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