Estético e estático - Ensaio sobre o real

I)

Todos eles eram de plástico
Todos eles sorriam igual
Todos eles cheiravam estranho
Todos eles olhavam ambíguo
Suas vozes ressoavam
Ressonavam, caçoavam
Eram vozes metálicas, estridentes,
divergentes.
Eram corpos, e não tinham corpos.
Não eram alma, não a tinham, tampouco.
Não tinham também pretensão de ter.

II)

Eles eram reais, como manequins vivos
Modelos de perfeição bizarra e futurista
Sofisticação inalcançável e não-humana
Eles eram todos feitos de plástico.
Eles existiam pra negar minha existência.
Eles eram feitos para eu não ser. E perto daquelas figuras, eu não era real. E longe deles, suas sombras me perseguiam, seus sorrisos me abalavam e suas mãos me consumiam.
Eles me caçavam e injetavam veneno no meu café. Me surravam e cuspiam na minha crença.
Eles eram a maldade e a repressão e as exigências mundanas.

III)

E eu, muda permaneci
Estava assim, adoecida de amor
Fraca, desnutrida de sinceridade
Faltava-me o gozo daqueles que sabem ser reais perto de tanta plasticidade
Respirava e me perdia de lembranças de gente real.
Resgatei os cheiros de volta a você
Percorri todo o caminho desse corpo suado e imperfeito
Que me matava de desejo
Coração doendo e corpo derretido
"Toca em mim, vem.
Toca em mim pra eu ser real.
Vem pra perto, amor. Que perto de você eu sou
Eu."
Eu sou eu.
Coração doendo de amor.
Corpo derretido de entrega.
Perto de você, eu sou real.

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