Eu queria ser pra você.

Todas as vezes que eu abro a janelinha de novas postagens, eu sinto um impulso em escrever pra você. Eu só não consigo. E você diz que o texto que eu escrever sobre você será uma ópera. E que ópera.
Não é má vontade, e eu sei o que você vai dizer. Você escreve para todos os seus amigos, eles são mais importantes que eu?
E eu vou, mais uma vez, pacientemente, dizer que não. O meu grande problema em escrever sobre você é que não consigo sintetizar nessas linhas tanto amor, tanta mágoa, tanta força, tanta necessidade, e tudo o que você é. Não consigo dizer o quanto você me machuca. E só me machuca, porque eu te amo mais que qualquer coisa nesse vida. Só de pensar em te perder, eu fico doendo tanto que tenho medo de pisar no chão. E quando esses pensamentos me ocorrem, eles grudam em mim, gelados, viciantes, uma bolha de medo que não cessa dentro de mim. E como eu sou pequena demais pra aguentar tudo isso, eu vou sacudindo suas lembranças que me trazem dor, vou sacudindo-as de cada pedacinho do meu corpo. Porque não quero acreditar que você faria qualquer coisa pra me machucar.
E não faria mesmo.
Mãe, o amor que sinto por você é seu. Todo o valor que você tem pra mim, toda sua força, sua coragem, sua determinação - tudo me inspira. Eu queria saber tudo o que você sabe, pra poder dizer as coisas que você diz.
Seus defeitos são só defeitos. Mas você não deve ser culpar por isso. Você veio mesmo com defeito, é verdade, e ninguém vai poder te consertar. Acho que aqui não é seu lugar. Porque afinal, acho que você é um anjo, por isso não consegue ser feliz em um mundo tão cheio de maldade e sujeira. É por isso que a infelicidade te corrói: Você é boa demais pra isso tudo.
Eu fico fazendo cara de dor porque preciso do seu amor, mas preciso mais ainda te ver feliz, e me certificar que você está bem. Mamãe, por que você nunca está bem? Por que perto de você eu ainda sou aquela garotinha perdida no momento, sem saber bem o que fazer? Eu queria consertar sua vida com um tubo de cola e um pouquinho de tinta, como você conseguia fazer com a minha. Eu queria fechar suas feridas com aquele remedinho que arde, pra você derramar uma lagrimazinha de pirraça e depois ficar bem. Eu queria aguentar seu mundo, mas eu não consigo. Eu só queria poder ser o motivo da sua felicidade, queria fazer seus dias melhores. Eu não consigo, mas preciso que você saiba que eu te amo. E amo mais do que todas as coisas são capazes de amar.
Além de todas as dores da vida e as chagas purulentas que o mundo tem, há o amor. E o amor cura as pessoas. Eu só espero que possa te curar também.
Por fim, eu queria ser sua mãe. Queria poder te ensinar tudo o que você me ensinou, sem machucar, sem ter que ferir. Queria sentar você ao meu lado e dizer que tudo vai ficar bem. Eu queria poder ser pra você, uma mãe tão boa e tão defeituosa e tão angelical e tão maravilhosa. Eu queria ser pra você a mãe que você é pra mim.

(À Ana Cláudia Mileto.)

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