A menina e a coisa.

O vestido azul dela tremulava no vento frio. Aonde ela está indo?
- Deus, eu acredito em você. - ela dizia. Os outros riam-se, pois para eles ela falava sozinha.
- Como tu podes permitir vida em tão cruel mundo, Deus, se há tantos que sofrem com isso? - ela perguntava. Os outros riam-se, porque a única que sofria era a menina com o vestidinho azul tremulando ao vento.
Pois ela se foi. Abriu suas enormes asas brancas e se foi, já tão cansada, sentindo-se tão covarde. Em seu lugar, alguma coisa surgiu. Sim, era uma coisa. Pois não havia coração, só cérebro, e tamanha ciência sem fé ou amor criava um monstro.
- Quem é você? - os outros perguntaram, assustados.
- Sou eu. - a coisa respondeu, tentando se passar pela criatura doce que era antes, mas as diferenças eram gritantes.
- Quem é você? - perguntaram novamente.
- Não sou fria. Não sou maldosa. Sou um resultado. E com quem vou prestar contas, hein? Deus? Ah, tá. - a coisa disse, na defensiva. E os outros, amedrontados, louvaram-na. Pois quando és cruel, os outros tem respeito. Tu tens espaço para crescer.
Mas não se engane. O vestido azul ainda tremulava ao vento. A menina doce que o ocupava ainda corre por qualquer rua, iluminando os cantos escuros. Suas asas e olhos ainda brilham, bem abertos. Um dia ela volta. Um dia.

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